Quando da divulgação da lista dos 100 maiores desmatadores do Brasil, surgiram, de imediato, os mesmos oportunistas de sempre a dar à notícia a versão torpe garantidora dos interesses escusos do capital predador.Nas primeiras horas após a divulgação, um Blog da Veja já estampava: “Incra é responsável por 44% do desmatamento; então Blairo é inocente, e Lula, culpado”.Então, para os mais esclarecidos, vejamos o gráfico (produzido pela CGFIS/IBAMA) abaixo:Ora, esse gráfico representa a evolução do desmatamento em Km2 desde 1977, a lista divulgada contém apenas 100 dos maiores desmatadores autuados nos anos de 2006 e 2007, de uma lista de milhares de desmatadores desde 1988 e que foram responsáveis por um total acumulado de 342.442,00 Km2 devastados, desde aquele ano. Como o total desmatado e autuado pelos assentamentos foi de 520.000,00 ha ou o equivalente a 5.200 Km2 desde 1992 e o acumulado de 1992 a 2006 foi de 278.672,00 Km2, isso significa que os desmatamentos de responsabilidade do INCRA, que aparecem na lista, representam apenas 1,86% do total desmatado nesse período, os demais 98,14% são de responsabilidade, em sua grande maioria, dos grandes latifundiários da Amazônia. Então, os 44% que aparecem na chamada do Blog sensacionalista da Veja é apenas mais uma das falácias dos que defendem a devastação das nossas florestas!O Secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso também se apressou em utilizar a lista para alfinetar o Ministro do Meio Ambiente insinuando que o Governo Federal, através do INCRA é quem seria o responsável pelos desmatamentos em Mato Grosso.Os Números acima evidenciam as tentativas de engodo.Além disso, dever-se-ia, no mínimo, por honestidade social informar que esses 5.200 Km2 são ocupados por milhares de famílias que foram beneficiadas por um pedaço de chão que como diria os poetas João Cabral de Melo Neto e Chico Buarque no famoso poema Funeral de um Lavrador: “É de bom tamanho nem largo nem fundo É a parte que te cabe deste latifúndio Não é cova grande, é cova medida É a terra que querias ver dividida”Não se pode olvidar também de como se deu o processo histórico de ocupação dos assentamentos do INCRA nesses últimos 30 anos de luta dos vários movimentos sociais pela reforma agrária no Brasil e que teve, em sua grande maioria dos casos, assentamentos de áreas regularizadas após serem invadidas. Isso produziu vícios e irregularidades de origem, tais como a falta de licenciamento ambiental e planejamento na execução da exploração florestal dessas pequenas propriedades.Mas daí a culpar os pobres assentados e sem terra de serem os grandes responsáveis pelo desmatamento no Brasil, aí já é demais!E nós sabemos a quem servem essas análises apressadas e distorcidas e devemos ficar atentos para não sermos iludidos ingenuamente.Adamastor Martins de Oliveira é Analista Ambiental – Agente Federal de Fiscalização Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA
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