![]() |
Numa realidade de contrastes, onde o Rio São Francisco dá forma à represa de Sobradinho, é impossível pensar que pode faltar água no sertão. Mas falta. Tem família que vive a um quilômetro km da represa, só com água de cisterna.
Mas a curiosidade aqui é outra, é explorar a imensidão e o cotidiano das margens da barragem e seu encontro com o sertão da Bahia, onde duas características são marcantes: a quantidade de água na represa e a seca.
Comecei minha jornada sobre a ponte entre Juazeiro(BA) e Petrolina (PE), sobre o grande rio, indo em sentido às novas Casa Nova e Remanso (as antigas estão debaixo d´água), duas cidades às margens da represa de Sobradinho, sem saber muito o que iria encontrar. Sempre olhava o mapa e prestava atenção nelas, então resolvi conferir.
Depois de um almoço em Casa Nova, uma garçonete falou que tem umas “tar di dunas, que eu nunca fui lá não, mas é bonito que só”. Peguei mais algumas informações e parti rumo às já famosas dunas. Muitos quilômetros depois, pergunta aqui, pergunta ali, e sempre “atrás daquele morro você vai ver as dunas”.
Pois , as Dunas do Velho Chico foram uma bela descoberta, de natureza grandiosa e interação com o ser humano. Os bancos de areia, os resquícios de uma vila engolida pelas dunas, as árvores secas quase dentro da represa, o bar do Francisco, a represa e todo o vale do rio formaram um belo cenário para muitas fotos, com céu claro e uma bela luz.
Uma dica importantíssima para quem quer fotografar o homem do campo é a interação, quando mais se interage e se conversa (com calma), mais espontâneas serão a realidade e o cotidiano.
Outros tantos quilômetros à frente, já em Remanso, encontrei tempo feio. Choveu a noite toda e sem perspectiva de melhorar. A chuva é abençoada no sertão, época de plantio e cuidados com a lavoura. Já para a fotografia, essa luz não favorece, mas não fiquei parado, saí rodando pela cidade e após passar o porto e a peixaria, cheguei em Remanso Velho, com águas baixas na represa.
Remanso Velho é o nome da antiga cidade de Remanso que fora abandonada na época da construção da barragem de Sobradinho, no fim dos anos 1970. A cidade foi toda transferida de lugar, pois as águas ali estão muito mais altas que o curso normal do rio. Em Remanso Velho hoje não mora ninguém, é uma realidade de ruínas. A impressão é de um cenário de guerra, que fica submerso por metade do ano e vira uma cidade fantasma na outra metade. O dia nublado aumentou essa sensação de mistério.
Tanto nas Dunas do Velho Chico como em Remanso Velho, eu pisei em terras sertanejas, onde água e vida caminham lado a lado. Mas em metade do ano, por obra da natureza humana, a água toma conta, voltando ao horizonte, como um grande mar.
Leia também
((o))eco se junta a 20 veículos em aliança inédita de cobertura na COP30
A Casa do Jornalismo Socioambiental será hub de produção e compartilhamento de conteúdo sobre a COP30. O espaço também terá programação voltada para oficinas e debates →
Relatório da ONU afirma que humanidade terá de enfrentar um mundo acima de 1,5ºC
PNUMA diz que falta de ambição torna iminente a superação da meta definida no Acordo de Paris e que mundo deve correr para que ultrapassagem seja breve →
Da teoria à prática: obra discute desafios da política ambiental brasileira sob olhar econômico
Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Gema), do Instituto de Economia da UFRJ, reúne em livro referências e novas gerações atentas aos desafios brasileiros →







“tar di dunas, que eu nunca fui lá não, mas é bonito que só”. O povo daqui não fala dessa forma não, tu deve ter falado com um turista de outra região, tenho certeza que não foi aqui.