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Pantanal: Ausência de centro de reabilitação faz resgate de animais ser custoso

Animais que precisam de assistência médica mais intensa, como a lontra filhote que acompanhamos nesta terça-feira, precisam viajar mais de 150 km para fora da Transpantaneira

Leandro Barbosa · Victor Del Vecchio · Gabriel Schlickmann ·
15 de setembro de 2021 · 3 anos atrás

Iniciamos o dia partindo de Pixaim, onde estamos hospedados, para Porto Jofre, a 100 km de distância, onde fomos acompanhar a equipe da AMPARA Silvestre em um resgate de filhote de lontra, nomeado de Aya, que fora encontrado sozinho, perdido de sua mãe, por um ribeirinho.

No caminho, passamos por todas as pontes e corixos que ficam debaixo delas, e pelos quais tivemos passado nesses dias todos. É nítido o recuo das margens das águas, resultado da falta de chuvas.

Chegando em Porto Jofre, a equipe da AMPARA recolheu o animal, que estava acomodado em uma caixa de papelão. Logo constataram que o filhote estava com muita urina acumulada, uma vez que, nessa fase de desenvolvimento, ele só excreta quando a mãe estimula sua região próxima à genitália com lambidas. Maine Corral, veterinária voluntária que tratava do filhote, simulou o movimento com uma gaze molhada e logo vimos a barriga do animal desinchar. 

A veterinária Maine Corral cuidando do filhote Aya. Foto: Gabriel Schlickmann

“Por ser um filhote muito novo, que não está sequer com os olhos abertos, exige uma proximidade humana muito grande para alimentação, estímulo para excreções, controle de temperatura, etc. Essa proximidade acaba inviabilizando o processo futuro de soltura, na grande maioria dos casos”, explica Jorge Salomão, médico veterinário e responsável técnico da AMPARA. 

O filhote precisava de cuidados mais intensos, o que apressou a equipe da AMPARA para removê-lo para um centro de cuidados. Vale mencionar que na Transpantaneira não há um espaço devidamente equipado para receber animais silvestres que necessitam de atendimento médico, o que faz com que os espécimes resgatados na região precisem ser levados a distâncias de pelo menos 150 km para fora da Transpantaneira. Isso, em um terreno acidentado, cheio de pontes de madeira e estradas com muita poeira, significa não só longas distâncias, mas também muito tempo empreendido nos percursos.

As organizações todas, inclusive bombeiros, relataram ter muitos problemas e altas despesas envolvendo veículos e locomoção. Conosco não foi diferente, hoje furamos nosso quarto pneu em 10 dias de viagem.

Um dos fatores que irá ajudar a minimizar esse gasto, além de enorme vantagem logística, será o espaço de reabilitação de animais que a AMPARA está construindo próximo ao Porto Jofre. Há ainda uma outra questão importantíssima na localização: os animais poderem ser reabilitados e soltos no local onde vivem.

Esse espaço, no entanto, ainda está em processo de construção, e depende do levantamento de fundos para que o projeto avance. Você pode apoiar essa iniciativa diretamente no PIX 12791298000184 (Associação Mulheres Para)

Foto: Gabriel Schlickmann

Pantanal ameaçado é um projeto de Leandro Barbosa, Victor Del Vecchio, Lina Castro e Gabriel Schlickmann, financiado coletivamente e que conta com o apoio da iniciativa Observa-MT.

  • Leandro Barbosa

    Jornalista, com publicações nos jornais The Intercept Brasil, Ponte Jornalismo, Globoplay, El País Brasil, UOL, Yahoo, Agência Pública e na revista americana Atmos

  • Victor Del Vecchio

    Advogado e mestrando em Direito Internacional pela USP, professor da Casa do Saber

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Comentários 1

  1. Infelizmente, a situação é precária no Brasil, principalmente em locais que não fazem parte da região Sul/Sudeste. Seria ótima se as pessoas votassem em políticos que tenham a devida preocupação com os animais. Espero que vocês consigam reverter este momento adverso que já dura décadas.