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Manchas de óleo chegam a Abrolhos

Apesar de inicialmente negarem, autoridades confirmam óleo na região dos Abrolhos. Pesquisadores e chefe do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos esclarecem a situação da região

Carolina Lisboa ·
4 de novembro de 2019 · 4 anos atrás
O óleo atinge grande extensão em abrolhos e chega em pequenos fragmentos, como o coletado acima pela equipe do Instituto Baleia Jubarte. Foto: IBJ.

Nestes sábado (2) e domingo (3), o Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) formado pela Marinha do Brasil, Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) divulgou a presença de fragmentos de óleo em algumas localidades dentro do arquipélago de Abrolhos, Bahia, região de maior biodiversidade do Atlântico Sul. De acordo com o GAA, o material foi encontrado em Ponta da Baleia, no município de Caravelas, e na Ilha de Santa Bárbara, a maior do arquipélago de Abrolhos.

Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) já haviam divulgado imagens de uma mancha com cerca de 200 km² com características de óleo a 50 km do litoral da Bahia, mas notas oficiais da Marinha, Ibama e Petrobrás negaram se tratar de óleo. Um dos alertas foi dado pelo pesquisador José Carlos Seoane, da UFRJ. Em relatório divulgado no sábado (2) e imagens divulgadas nesta segunda-feira (4) e confirmadas em sobrevoo ao meio-dia de hoje, Seoane alerta que a mancha de óleo chegou à região entre Belmonte e Porto Seguro, na Bahia. “Essas áreas devem ser monitoradas da melhor maneira possível por equipes preparadas para conter o óleo. Em especial os recifes do Araripe, Angaba, Coroa Alta, Itacepanema e o Coração, em Santa Cruz Cabrália. Nosso recife-escola, o Recife de Fora em Porto Seguro, também está na área de risco”. 

As áreas em questão fazem parte dos Bancos dos Abrolhos e Royal Charlotte, a área mais extensa de recifes de coral do Brasil e o maior banco de algas calcárias do mundo. “É onde temos as melhores e mais preservadas áreas dos recifes de corais, que estão entre os mais saudáveis no Brasil. Ali também há muitas espécies ameaçadas de peixes, tartarugas e aves marinhas”, explicou Guilherme Fraga Dutra, diretor da Estratégia Costeira e Marinha da Conservação Internacional, que atua na região desde 1996. Nessa região se encontra também o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos – PARNAM Abrolhos, de 87.943 hectares, o primeiro Parque Nacional Marinho do Brasil, criado pelo Decreto Federal Nº 88.218 de 06 de abril de 1983.

Confirmação da mancha de óleo. Fonte José Carlos Seoane – UFRJ.

De acordo com Dutra, faz duas semanas que o óleo chegou em Canavieiras, aparecendo em seguida em Belmonte, Santa Cruz de Cabrália, Porto Seguro, Prado, Alcobaça e Caravelas. “Até o momento a área mais castigada foi a da Resex Canavieiras, onde já foram retiradas mais de 20 toneladas de óleo, que chegou principalmente em grandes manchas. Nas localidades mais ao sul, como o Arquipélago dos Abrolhos e o estuário de Caravelas (na Resex Cassurubá) o óleo chegou em pelotas pequenas, mas milhares delas que estão se espalhando por grandes áreas. Não sabemos o real efeito dessa nova forma do óleo na biota”. Sobre as ações em andamento, Dutra afirma que foram elaborados Planos de Contingência, primeiro para a Resex Canavieiras e depois para o conjunto das UCs do Banco dos Abrolhos. “O local que estava mais organizado e preparado era Canavieiras, devido à forte organização dos pescadores, do ICMBio e de outras organizações locais. Ainda sim tiveram muitas dificuldades para lidar com a chegada do óleo. Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) insuficientes, dificuldades logísticas e locais inadequados para armazenar o óleo foram parte dos gargalos. Na maioria das outras localidades costeiras, o nível de organização é menor e a situação ainda mais complicada. A Marinha concentrou esforços nas áreas marinhas e no Parnam dos Abrolhos, mas a dificuldade para tirar o óleo na água segue crítica. O que está funcionando melhor é a retirada de óleo com redes de pesca, mas há poucos pescadores mobilizados para este fim, exceto em Canavieiras. Estamos trabalhando fortemente para mudar isso e lançamos uma campanha de arrecadação online para viabilizar isso”, esclareceu Dutra.

 ((o))eco conversou também com Fernando Pedro Marinho Repinaldo Filho, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e chefe do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, que esclareceu, em entrevista, como está a situação na região.

((o))eco: Já se sabe que o óleo chegou em alguns pontos da região dos Abrolhos. Quais foram as localidades atingidas até o momento e qual a extensão da área afetada?

Foto: IBJ

Fernando Repinaldo: A relação de todas as localidades atingidas e reconhecidas oficialmente pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) está disponível no site www.gov.br/manchanolitoral/. Todas as localidades, municípios e instituições estão orientadas a, quando encontrar óleo, se for no mar, reportar ao canal 185 – emergências marítimas, e se for em terra, acionar as prefeituras.

Foram encontrados indícios de óleo dentro dos limites de alguma Unidade de Conservação da região?

Sim, foi encontrado óleo no interior das Reservas Extrativistas (Resex) Canavieiras, Corumbau, Cassurubá e no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, além da APA Estadual Ponta da Baleia/Abrolhos. A relação precisa das UCs estaduais e municipais não vou saber informar agora.

Há ocorrência de fauna atingida por óleo na região?

Não há nenhuma identificação de fauna atingida por óleo na região das Unidades. Houve, sim, o resgate de uma ave oleada nas proximidades de Corumbau, bem antes de o óleo chegar na região. Uma ave migratória que provavelmente teve contato com o óleo em outra região, e acabou aparecendo encalhada na região de Corumbau.

Há algum plano de ação em andamento para as áreas atingidas e para conter o óleo no mar antes que atinja áreas sensíveis?

Especificamente na região do Parna Marinho dos Abrolhos, Resex Cassurubá e Resex Corumbau, entre os municípios de Prado e Mucuri no extremo sul da Bahia, foi montado uma grande rede de articulação e mobilização com atores locais, ONGs, universidades, poder público, etc. Foi montado um plano operativo local no sentido de preparar, orientar e compartilhar experiências e apoio mútuo, focado em seis grandes áreas: comunicação, voluntariado, vigilância, monitoramento, iniciativas para contenção e destinação de resíduos e atendimento a fauna oleada. Do ponto de vista de comando operacional da tragédia, coordenado pela Marinha, Ibama, Agência Nacional de Petróleo (ANP) e, claro, participação de outras instituições, incluindo ICMBio, há um grande plano com a presença de onze navios, sendo nove da Marinha do Brasil e dois da Petrobrás, patrulhando essa área de 22 mil km² correspondente à porção do banco dos Abrolhos na Bahia, entre Prado e Mucuri. Tem ocorrido também, há mais de 15 dias, sobrevoos diários por, pelo menos, dois helicópteros. Agora nas vésperas da confirmação da chegada de fragmentos no Parque Nacional, há um amplo plano local dentro desse plano do GAA, com a presença de embarcações de pescadores, de pesquisas e as do ICMBio, que vem fazendo rondas com a iniciativa principal de deflagrar, identificar e conter o quanto antes e o que for possível ainda no mar. Estamos trabalhando com a ideia de que qualquer milímetro ou parte de óleo que for retida ainda no mar é uma vitória. Todos os esforços locais estão sendo empregados com o apoio extremamente valioso dos voluntários, e a gente espera que isso ajude a minimizar os danos.

Quais as possíveis consequências da presença do óleo na região?

Há na literatura científica e em registros pelo mundo uma infinidade de impactos relacionados aos hidrocarbonetos, seja no ambiente, na biodiversidade ou na saúde humana. No momento é preliminar reportar isso. Estamos com todos os esforços concentrados na mitigação, na contenção, na destinação, no monitoramento e em conhecer o ambiente pré-evento, que vem sendo feito através de coletas de amostras, para depois conseguirmos mensurar da melhor maneira os impactos no local.

 

 

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  • Carolina Lisboa

    Jornalista, bióloga e doutora em Ecologia pela UFRN. Repórter com interesse na cobertura e divulgação científica sobre meio ambiente.

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Comentários 1

  1. Merilyn diz:

    Enfim, o que está realmente sendo feito para resolver esse problema?
    Não podemos deixar que essa beleza que Deus nos deu ser destruída!